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segunda-feira, 10 de junho de 2013

Crise de valores e Consumismo

Crise de valores e Consumismo


Por: Professor Márcio Siqueira

O mundo atravessa um momento de transição, onde todos os valores tradicionais são colocados na berlinda, contestados, mas sem que ainda se tenha definido um novo paradigma ou novas propostas para substituir o modelo anterior. Estamos formando uma geração de pessoas que não sabe se relacionar, não se preocupa em agradar e nem nutre pelo próximo sentimentos bons de compaixão, de tolerância. Percebemos que algo vai mal quando não conseguimos nos comunicar com os jovens de hoje, que não sabem se expressar com clareza apesar de formados em universidades. Por outro lado, o domínio da informação adquire o status de fonte maior do poder. Quem tem esse domínio e velocidade de disponibilizá-la tem o poder.

O capitalismo se “maquia” no paradigma chamado “neoliberalismo”, e num conceito denominado “globalização” impõe, praticamente sem resistência, o domínio e o uso do capital sem escrúpulos. Nesse processo de “globalização”, somos massificados e doutrinados a acreditar que esse processo é bom e inevitável. Rapidamente passamos a aceitar que o que é bom para os outros é bom para nós. Na massificação preconizada pela “globalização”, somos constantemente mediocrizados, e ao mesmo tempo convencidos de que o medíocre não terá vez no processo produtivo.

No campo do comportamento, também a sociedade se encontra num momento de indefinição, de incertezas. A mídia, especialmente a televisiva, valoriza extremamente a sensualidade e o erotismo, colocando isso para consumo dos jovens de todas as idades. As músicas – falo do forró estilizado, muito ouvido no Sertão - que cativam nossos jovens, tem ruim conteúdo, um forte apelo sexual e um grande incentivo ao consumo de álcool. O poder de propaganda destas músicas é devastador. Suas melodias são interessantes, porque tem um batuque que nos lembra as performances africanas, mas suas letras massificam um comportamento padronizado e até desrespeitoso, que são “vendidos” como sendo normais. Suas letras incentivam a ideia de que a vida gira em torno apenas das posses, da ostentação e do sexo irresponsável. E quem não se insere nessas normas não faz parte do mundo, não é valorizado.

A violência é banalizada nos meios de comunicação, especialmente a violência entre jovens. Passamos a “consumir” a violência no noticiário, na hora do almoço, do jantar, na hora do bate-papo familiar. Pouco a pouco vamos absorvendo a violência como parte de nossa vida, acabando por se tornar natural e próspera, porque a impunidade transforma o anormal em normal. A busca da interação com a família é difícil pelas dificuldades do mundo moderno e o jovem busca a “proteção” da “turma”, da “gangue”, o que o leva a “uniformização”, a “padronização”. A “turma” cobra o preço da “proteção”, que é a aceitação de que aquilo é correto, que os errados são os que daquela forma não procedem. Na “turma”, o senso crítico é abafado. Não temos jovens críticos, temos jovens rebeldes que não acreditam nas ideologias, nem tem utopias. Frei Beto, respondendo a uma entrevista, disse:

“Na minha geração aquela que tinha 20 anos nos anos 60 do século XX, havia drogas. Mais a incidência não era tão grande porque nós éramos viciados em utopia. E estou convencido de quanto mais utopias menos drogas, quanto menos utopia, mais drogas. E o mundo hoje carece de utopias libertárias. Hoje, as grandes ambições são de bem-estar material. Não há uma preocupação altruísta. Hoje, os heróis da juventude não são mais aquelas pessoas como Gandhi, Che Guevara, Mandela, Luther King. Hoje, não. São as celebridades da moda, do mundo pop, do esporte”.

Então, o que se percebe de forma gritante no convívio social é, de um lado, um pesada exigência sobre o controle dos comportamentos, e, de outra parte, pouca oferta de qualidade educacional que valorize conteúdo, crítica e autonomia, que podem, gradativamente, formar gente com ideias próprias. O psicólogo Armando Correa de Siqueira Neto, em artigo publicado para o blog “O Dia D”, assevera:

“Sem a educação civilizadora o homem permanecerá indefinidamente escravo de si mesmo e refém da manipulação ardilosa de outros homens. Porquanto se deve lutar voraz e incessantemente em favor das políticas que favoreçam a educação de qualidade para que os reflexos de tal empreendimento beneficiem futuras gerações que, ao olharem para o seu passado, entendam claramente que a intervenção madura é o caminho para libertar o homem e torná-lo um transformador pleno da sociedade.”

O nosso jovem, por ser jovem, tem tudo a construir, e construindo, pode mudar o mundo. Tem a obrigação de informar-se, de desenvolver o espírito crítico, de instruir-se. Deve viver intensamente a vida, sempre com o cuidado de não “trombar” com as Leis Humanas e Naturais. Deve exercitar a paz, a paciência, a não-violência, Deve exercitar a mudança e a evolução constante, pela participação efetiva na sociedade, na escola, em casa, nas associações, sindicatos etc. Não pode calar-se com as injustiças, nem omitir-se na participação junto a sociedade. Não deve ter vergonha da exemplificação correta, nem do abandono da mediocridade. Deve usar a experiência dos mais velhos para facilitar a elaboração do seu projeto de vida, e ao mesmo tempo a ousadia da própria juventude para se propor um projeto mais ousado. Sem sombra de dúvida, o mundo só mudará para melhor, num caminho pacífico e controlado, se os jovens decidirem que irão mudá-lo dessa maneira, numa construção individual, que na evolução das gerações, levará à evolução e construção coletiva.

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