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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Leio, logo existo

Leio, logo existo
(Professor Márcio Siqueira)


“Um livro aberto é um ente que fala; fechado, um amigo que espera; esquecido, uma alma que perdoa; destruído, um coração que chora”. (Provérbio hindu).

O magnífico literato Érico Veríssimo costumava comentar da sua satisfação em escrever livros, uma vez que, com essa prática, granjeava amigos íntimos sem conhecê-los. Mas além da satisfação pessoal que todo escritor certamente tem, há uma que, se não todos, mas pelo menos a maioria espero que tenha: o dever cívico de formar cidadãos críticos e aptos a entender a conjuntura social, política e econômica de qualquer sociedade, no tempo e no espaço em que vive. Pode não passar de um desejo apenas, quando é sonhado por uma só pessoa, mas que pode se tornar realidade quando muitas sonham e principalmente trabalham para realizarem-na. E por ser uma das ferramentas mais sofisticadas que os homens têm, a leitura representa, principalmente nestes tempos pós-modernos da sociedade da informação, um bem dos mais preciosos.
É sabido que o analfabeto do século XXI, não é mais aquele que não lê e não escreve, (sem querer exagerar, este está ficando tão atrasado nestes tempos de globalização, que já se pensa em dar-lhe outra conceituação), mas o que escreve, lê e não entende o que leu. É o analfabeto funcional. Infelizmente, o Brasil tem 33 milhões de almas nestas condições, que corresponde a 18% da população, ou seja, pessoas com menos de quatro anos de estudo, e 16 milhões de pessoas com mais de 15 anos que ainda não foram alfabetizadas. (Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE).
Mais do que nunca na história da Humanidade, foi tão importante está inserido no seu contexto sócio-político e econômico, e, está inserido neste contexto significa não apenas conhecer, mas conquistar para si mesmo a satisfação de poder atuar, agir e interferir, nos fazendo ter a real sensação íntima de existir.
É tão importante a leitura como informação para a formação do caráter do Homem, que em todos os tempos os detentores do conhecimento dominaram com mais ou menos influência a vida da maioria. Fez e ainda faz parte até de regras “políticas” manter a grande massa da população ignorante para melhor ser dominada. A própria Igreja usou desse expediente, quando condenava obras de imenso valor literário científico, filosófico, político ou mesmo religioso ao seu index librorium proibitorium (Índice dos Livros Proibidos). À própria Bíblia, até pouco tempo, tinham-lhe acesso apenas os sacerdotes, e quando sua leitura se dava para os leigos era em latim. Como cumprir a recomendação de Jesus, o fundador do Cristianismo, quando asseverava: “Conhecereis a verdade e a verdade vos fará livres”, sem conquistarmos informações, sem apreciarmos os conceitos do saber humano e assim fazermos, por nós mesmos, uma filtragem do que é certo ou errado para a nossa formação intelectual? Na leitura (livre e universal) alcançamos o patamar da independência, da liberdade, senão do corpo, mas certamente da alma. Neste patamar somos juízes de nós mesmos; formulamos nossas próprias convicções.
Nestes tempos de crises políticas, onde a corrupção assola sem pudor; onde o desrespeito para com a família e para com a ética são vistos explicitamente; onde a agressão à natureza se faz sem o menor sentimento de culpa e/ou responsabilidade; onde o respeito pela Vida é relegado aos mais baixos níveis, imperioso se faz, mais do que nunca, recorrermos ao processo de Educação e Moral dos homens e mulheres, dos jovens e velhos, e a leitura está aí, para dar sua contribuição.
Ler, não é apenas folhear uma brochura ou uma revista, é também sonhar, viver a informação ali contida; é compartilhar emoções; é viajar a lugares infinitamente distantes sem sair da nossa poltrona; é pensar o próprio existir. Se o eminente pai da filosofia moderna René Descartes expressou em sua obra Discurso do Método, a imortal frase: “Cogito, ergo sum”, concluindo naquelas reflexões a sua realidade como ser pensante ou um Espírito independente do corpo, com muito respeito, plagiamos sua idéia para situar a leitura como uma ferramenta que nos dá a grata satisfação de nos sentirmos seres existentes.

Profº. Márcio

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