Por Gabriel Santos Elias
As eleições são um momento mágico. Não tanto pela decisão final que escolhe os mandatários dos cargos que pretendem representar a população, mas por forçar todos os brasileiros e brasileiras a discutir, ainda que minimamente, os problemas do nosso país e as possíveis soluções para resolvê-los. Esse é o aspecto mais importante das eleições e que devemos aproveitar mais.
O debate público que é feito durante as eleições, os temas que são pautados, as demandas que são apresentadas pela sociedade, são tão ou mais importantes que as pessoas escolhidas como representantes. Os debates e compromissos feitos no debate público afetam as posições que esses representantes tomarão em seu mandato através dos compromissos firmados durante as eleições.
Se não essa, qual a explicação para a posição conservadora de FHC em relação às drogas enquanto presidente, que mudou logo que saiu do cargo? Ou a posição de Lula em relação à política macro-econômica? Esse talvez seja o melhor exemplo. Nos espaços hegemônicos do debate público, principalmente organizados pela CNI, CNA, e a grande mídia em geral, o candidato Lula era questionado e cobrado em relação à manutenção da política macro-econômica do governo FHC. A pressão foi tanta que Lula firmou seu compromisso através da “Carta aos Brasileiros”.
No último debate organizado pelo grupo Brasil & Desenvolvimento, questionamos Marina Silva em relação a sua posição quanto à democratização da comunicação. Sua resposta foi no sentido de garantir e fortalecer o controle social da mídia, como meio democrático de regular as concessões públicas da área de comunicação no Brasil. A reação da mídia foi clara: atacou a candidata e sua posição em relação ao tema, certamente será questionada nos outros espaços organizados por esses grupos. Marina sofrerá muita pressão ainda nessas eleições para recuar em sua posição sobre a democratização da comunicação. A sociedade civil organizada em torno dessa bandeira deve também pressionar para que, não só ela, mas todos os candidatos, assumam seu compromisso com a democratização da comunicação.
Nessa semana, Dilma Rousseff tomou a corajosa (e arriscada) decisão de não participar de uma sabatina organizada pelo jornal Folha de São Paulo, além de um evento da Confederação Nacional da Agricultura. Nada contra a decisão da candidata. Por mais que não seja o real motivo, ela poderia dizer que recusou pois estes são os espaços tradicionais de poder, que influenciam mais o debate público, principalmente através de seu poder econômico.
Mas, tendo clara a importância de se pensar o Brasil, nossos problemas e as possíveis soluções, e entendendo o momento eleitoral como importante nesse sentido, o candidato ou a candidata não pode se furtar a participação no debate público. Muito pelo contrário, deve aproveitar ao máximo as oportunidades de expor suas idéias à criticas e opiniões. Através do processo de diálogo com os setores da sociedade devem definir suas posições e seus argumentos em relação aos diversos temas que incorporam a agenda do poder.
O problema é que os candidatos ainda freqüentam os mesmos espaços durante as eleições: os debates promovidos pelas entidades patronais (CNI, CNA, FIESP, etc) e os debates organizados por grandes meios de comunicação. Se algum candidato está preocupado em realizar um processo de mudança na sociedade através de novas ideias, deve valorizar os espaços onde essas novas idéias são pautadas. Deve dar voz, visibilidade e assumir publicamente compromissos com essas idéias. Sem o compromisso público, as boas intenções são as primeiras a serem trocadas no processo de negociação política e a tão sonhada mudança profunda da nossa realidade fica cada vez mais distante…
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