Veja abaixo o depoimento desse grande artista a respeito de Walmar Belarmino grande poeta de Sertânia - Irmão de Fátima de Zé de Santa.
Sobreveio a crise: perde o emprego, separa-se da mulher e, como tantos outros, mergulha na bebida. Nos tempos das vacas gordas, em que o músico, sertanejo de Sertânia, era produtor de programas na TV PERNAMBUCO, era requisitado por quase todos os artistas da cena musical regional, aos quais servia abrindo espaços, razão pela qual muitos dos que hoje são sucesso com o forró pé de serra, devem parte de seu êxito ao companheiro Walmar Belarmino, que a todos atendia, inclusive este que vos escreve estas linhas.
Nestes tempos bicudos, bebendo bastante e esquecido pela maioria esmagadora dos seus “amigos”, que já não o procuravam mais, mesmo assim teve fôlego para organizar um livro de poesias e um CD. Resolve lançar o livro num barzinho da noite, e convida, inclusive pelos jornais locais, as pessoas para um show musical e recital de poesia, coisas que em outras ocasiões, tinham sido bem prestigiados pelos músicos e poetas do seu círculo de relações.
Era 20:00 h, eu acabava de chegar ao local e falei com o Walmar, em seguida, Zeto, que fica cerca de meia hora, e sai, para conferir um show de repentistas no Teatro do Parque, dizendo que voltaria trazendo a “turma” para prestigiar nosso evento. Não apareceu ninguém, além de mim e os músicos que iriam tocar com Walmar. Ele, era a imagem da desolação, tal como uma noiva abandonada no altar, quando perguntou-me o que fazer, já que o gerente da casa reclamava pelo início do evento, já que havia uma considerável clientela presente, ávida por música, porque o restaurante era especializado em shows de seresta.
Disse-lhe que deveríamos fazer um show de barzinho, já que aquele povo não estava ali pelo seu recital, ganhar o couvert artístico e, na seqüência, fazer a farra que sempre havíamos feito nos outros eventos desta natureza, que o sertanejo havia organizado no Recife. Dito e feito, o show, a farra, terminando a noitada, às 03:00 da madrugada no Largo da Paz, aonde me despedi do amigo, deixando com ele meu cartão, demos um forte abraço de despedida, selando a continuidade de nossas parcerias e amizade, mesmo naqueles tempos de vacas magras em que ambos nos encontrávamos.
Só o vi mais uma vez, quando fui ao estúdio do Conservatório Pernambucano de Música para eu por um acompanhamento de violão numa das faixas do CD autoral que estava produzindo. Ele havia bebido demais da conta na noite anterior, razão pela qual perdemos a oportunidade de realizar a gravação.
O cartão com meu telefone, assim como outro com o número da Casa do Carnaval, foram os únicos que foram encontrados entre seus pertences por uma equipe do IML, que recolheu seu cadáver, após ele morrer afogado na praia do Janga, após emendar uma noite de bebedeira com outra carraspana na praia. Um policial civil, aparentemente um “sócio” de uma funerária, ligou pra mim em busca de alguém que reclamasse o corpo do bacharel em direito Walmar Belarmino que desde Sábado estava guardado na câmara fria do IML.
Era uma Segunda-feira por volta do meio dia, quando eu dei a notícia à única pessoa que eu conhecia que sabia aonde encontrar os parentes do Walmar,o empresário Marcos Veloso, para ser mais exato, havia apenas um irmão por parte de pai, que nós não sabíamos como encontrar, a mãe que residia em Sertânia e a ex esposa. Com a certidão de casamento ela conseguiu liberar o corpo no IML, já que os documentos dele haviam “desaparecido” do IML . Foi providenciado um velório às 20:00 h naquela mesma noite, ao qual não pude comparecer por causa de uma crise de hipertensão arterial, que tive após uma prova complicadíssima que fiz à noite na Escola Politécnica de Pernambuco, o que me deixou sem a menor condição de submeter-me ao estresse emocional adicional de ir ao velório.
Bem, pelo que me falaram, foi uma cerimônia bem concorrida, aonde os “amigos” foram em peso, homenagear o morto, que em seguida, seguiria para ser sepultado em Sertânia. Tempos depois, me telefonam convidando-me para uma homenagem que os mesmos “amigos” iriam fazer no ESPAÇO CULTURAL ALBERTO DA CUNHA MELO.
Minha resposta foi curta e grossa, recusei-me a ser uma espécie de urubu, hiena, ou coisa que o valha, perguntei qual a diferença que iria fazer naquela hora, reunir os amigos que o abandonaram em vida, disse que eu me sentia feliz por manter a fidelidade ao Walmar quando ele era vivo, e que por uma questão de respeito à sua memória, não iria ao “espetáculo” que os “amigos” iriam fazer.
Segundo me contaram foi tão emocionante quanto o velório. Hoje, de vez em quando Marcos Veloso me contrata para tocar no Espaço Cultural Alberto da Cunha Melo no Bar e Restaurante Nosso Quintal, vejo a foto do meu amigo Walmar, que está pendurada na parede, só me vem à mente uma frase bem famosa de uma canção do cancioneiro popular: “se alguém quiser fazer por mim, que faça agora… “.
Fonte:luizberto
* Suguestão: Géssica Amorim
Quando eu paro e recordo o meu passado No Sertão, no meu tempo de menino Dentro do peito um certo desatino Toma conta d'um coração alado Que de tanto com o mundo ter sonhado E aspirado um sucesso no futuro Desligou-se d'um modo prematuro Do Sertão, do seu lugar querido E a lembrança de tudo lá vivido Me derruba, e esse golpe é sempre duro. Jakson Amorim ( autor, poeta e colaborador do Blog)
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