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domingo, 8 de maio de 2011

O DÍZIMO – UMA REFLEXÃO SOBRE SUA FUNDAMENTAÇÃO HISTÓRICA




Em todos os tempos a religião sempre foi um “negócio da China” para os seus chefes. A expressão “negócio da China” nos remete ao entendimento de algo rendoso financeiramente; negócio de lucro exorbitante. Nas sociedades primitivas, após o advento do pensamento mágico entre os hominídeos, ela (religião) aparece como a primeira e mais forte coluna de sustentação dos privilégios de uma classe dominante. Nas civilizações do Oriente Próximo (egípcios, hebreus, mesopotâmicos), todas as sociedades giravam em torno da religião. Seus sistemas de governo se fundavam na teocracia e seus governantes eram, ao mesmo tempo, chefe político e chefe religioso (os patesis, na Mesopotâmia, por exemplo), chegando, em alguns casos, a serem a encarnação da própria divindade (os faraós, no Egito). Esta política foi a principal propaganda de apoio ao sistema asiático de produção, predominante naquelas sociedades.
Historicamente assim pode ser explicado a justificação dos tributos ou impostos cobrados por aquelas autoridades aos seus súditos. Porque como o Estado ainda não dispunha de uma burocracia laica e forte o suficiente para obrigar ou persuadir a população da importância dos pagamentos das taxas tributárias, apelava-se para a ideologia religiosa. Só assim – através da disseminação da ameaça dos castigos divinos – funcionava a cobrança e o pagamento dos impostos, uma vez que, o discurso que justificava a cobrança estava embasado numa suposta ordem divina.
A civilização antiga que mais se destacou nessa prática foi a hebraica. Os reis hebreus impunham aos seus subalternos a cobrança do “dízimo” – tributo equivalente a décima parte de todos os ganhos – para a sua sustentação e da estrutura burocrática do governo. Tinha caráter de obrigação religiosa, tendo em vista a profunda influência da religião patriarcal na vida das pessoas e do caráter teocrático do poder estabelecido.
Neste sentido, histórico por sinal, não se sustenta mais nos nossos tempos a “indireta obrigação” do pagamento do “dízimo” nos seios religiosos. Digo “indireta obrigação” e explico: em verdade, juridicamente, ninguém é obrigado a dar de seus recursos financeiros a nenhuma igreja. No entanto, a fortíssima máquina de propaganda alienadora usada nas pregações de “final dos tempos” acabam por convencer aquele de mente simplória ou de fé vacilante, por se sentir ameaçado pelos porta-vozes das possíveis represálias divinas. Os famigerados discursos inflamados e apelativos garantem, como “prêmios” aos dizimistas fiéis, sucessos materiais, curas milagrosas, e pasmem, até a “salvação” (seria uma indulgência pós-moderna?!).
O Estado moderno, pela complexidade de seu funcionamento, exige de sua população a sustentação de suas estruturas burocráticas por vias mais racionais (abusivas em muitos casos!), através dos impostos ou taxas como: Imposto de Renda, IPTU, IPVA, ICMS, ISS, etc., sem precisarem usar como convencimento o temor divino, mas as sanções que as leis – criadas pela própria sociedade – impõem aos sonegadores.
Não vivemos numa sociedade teocrática! Vivemos numa democracia. Nossos líderes políticos não são necessariamente chefes religiosos. Nosso Estado é laico! A Constituição nos garante isso.
Mas será que não devemos colaborar financeiramente com nossas casas religiosas? Sim, devemos sim, até porque há despesas para a imprescindível manutenção delas. Mas, nossa colaboração deve ser na medida de nossas possibilidades e vontades, sem sermos coagidos mediante o discurso do medo, do castigo e das maldições, e sem a promessa do sucesso material como recompensa. Porque nesse sentido, a contribuição fica catalogada como uma compra das benesses divinas, ou uma espécie de financiamento de curto, médio ou longo prazo (dependendo da fé!) de uma benesse material.
Não sou contra a prática do “dízimo” em si, mas contra o discurso de má-fé e muitas vezes falacioso de alguns líderes, que assim agem com o objetivo de encherem os bolsos e de terem uma vida faustosa às custas da fé sincera e ingênua de muitos. Não se deve viver da fé. Aluguel, comida, utensílios domésticos, vestuário, luz, água, telefone, etc. são despesas que devem ser quitadas mediante o trabalho material ou intelectual fora das igrejas (refiro-me aos propagadores do Evangelho), a não ser que se admita que anunciar o Evangelho de Jesus seja profissão, mas isso já é outra história...

Professor Márcio Siqueira - Professor de História Licenciado pela FAFOPST e Pós-Graduado com Especialização no Ensino de História pela UPE - Universidade de Pernambuco. É professor regente e atualmente vice-Diretor da escola Pedro Santos Estima, de Flores/PE

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